Dessa forma, podem surgir memórias ligadas à esses eventos que não foram processadas devidamente. Elas ficam isoladas e não conseguem se juntar ao restante das nossas memórias de forma adequada ou “adaptativa”. É como se estivessem congeladas, em nossos cérebros, em uma forma bruta.
Usando uma metáfora, poderíamos pensar na memória traumática como se ela estivesse em uma caixa ou cápsula separada das memórias que foram bem processadas. O problema é que, mesmo sem a gente ter consciência disso, essas memórias “encapsuladas” atrapalham nosso funcionamento psicológico, podendo causar sofrimento no presente, como ansiedade, baixa autoestima, problemas em relacionamentos (por exemplo, dificuldade para se vincular), problemas sexuais ou atrapalhar nosso desempenho (no trabalho, nos estudos, nas atividades físicas).
Na terapia EMDR, esses conteúdos das “capsulas” serão reprocessados e reintegrados às outras memórias. No ambiente seguro da terapia e com um/a profissional capacitado/a, o/a paciente terá uma nova chance de processar de forma mais saudável memórias traumáticas. Após o reprocessamento, lembrar não será doloroso como era e eventos, antes traumáticos, poderão deixar de travar a vida presente e futura do cliente.
Muita gente pode pensar “mas eu nem sofro por conta do passado e nem acho que tenha trauma”. No entanto, essas “capsulas” não precisam ser conscientes, na verdade, é comum que não sejam.
Ainda pode acontecer de a pessoa acreditar que o evento passado (ou seu registro na memória) é, hoje, irrelevante, logo, não lhe causaria maiores transtornos. No entanto, quando se toca no tema em terapia, pode se descobrir que a memória ligada a certos eventos está carregada emocionalmente e ainda tem efeito no momento presente por não ter sido devidamente processada quando aconteceu. Não é incomum que, durante o reprocessamento, memórias esquecidas, porém, com reflexos negativos no presente, venham à tona, podendo ser trabalhadas.
Dessa forma, uma importante tarefa da terapia EMDR é encontrar as conexões entre os sofrimentos atuais e as memórias não devidamente processadas e, após, reprocessá-las. Tendo a memória causadora das dificuldades sido processada, os sofrimentos trazidos para a terapia podem ser eliminados ou significativamente diminuídos.